de: Ianê Leal -
para: Amor, Positivismo e Fé
enviado: 13 de março de 2007 15:55
O mundo em guerra
A primeira pessoa de olho azul que vi em minha vida foi o piloto do caça americano que estava prestes a atirar em minha mãe e eu. Eu tinha dez anos de idade, ajudava minha mãe a colher laranjas numa plantação de montanha, quando um esquadrão americano passou voando rasteiro pela nossa ilha, indo em direção ao porto japonês perto de Hiroshima. Um avião se separou dos outros e veio direto em nossa direção. Minha mãe gritou: "Estão vindo atrás de nós!"
Tentamos correr até umas laranjeiras grandes na plantação para nos proteger, mas logo vimos que não chegaríamos lá em tempo. Minha mãe me agarrou em seus braços num abraço de despedida e olhamos para cima aterrorizadas. Então cruzamos o olhar com o jovem piloto. Talvez quando nos viu, ele mudou de idéia e não atirou sobre nós, mas subiu o avião rapidamente para cima da montanha e partiu.
Nasci numa das lindas ilhas Seto-Naikai (que ficam numa espécie de baía) na província de Hiroshima, no oeste do Japão, no dia 7 de janeiro de 1934. Quando começou a II Guerra Mundial eu estava com sete anos. Devido aos racionamentos por causa da guerra e grandes dificuldades na época, meus pais tiveram que fechar sua loja de roupas e procurar um emprego qualquer para sobreviverem. Acabaram trabalhando no campo e eu cuidava do meu irmão mais novo e de duas irmãs.
Estava com 11 anos quando às 8h15 da manhã do dia 6 de agosto de 1945, tudo subitamente escureceu. À escuridão seguiu-se uma luz brilhante, roxa e de cegar; então ouviu-se um estouro aterrorizante, estrondoso e um tremor de sacudir a terra. A primeira bomba atômica fora lançada pelas forças dos EUA na cidade de Hiroshima, perto dali.
Depois as sirenes de alerta soaram. Todos nós na minha pequena escola nos dispersamos quietamente para buscar abrigo.
Algumas das crianças mais velhas da escola na nossa cidade viviam na cidade de Hiroshima. Homens mais velhos da nossa cidadezinha tinham acabado de se alistar no exército e tinham ido para Hiroshima cedo naquela manhã. Quando a bomba apareceu sobre nós como um cogumelo gigante, os parentes dos que estavam em Hiroshima ficaram muito preocupados e logo foram para lá descobrir o que tinha acontecido. Lá descobriram que a bomba matara quase todas as pessoas num raio de dois quilômetros do centro da cidade, e outros estavam sofrendo dores torturantes.
Os parentes voltaram para nossa cidadezinha de coração despedaçado, e logo depois descobriram que eles também sofriam agora de algum tipo de doença da qual não sabiam nada a respeito. Agora sabemos que sua doença era a radiação atômica. Com o tempo isso levou à morte alguns deles, e causou sofrimentos por muito tempo em outros.
Como podem imaginar, este acontecimento criou em mim um forte rancor contra os americanos. Durante anos, alimentei este sentimento contra todos os estrangeiros.
Um "patinho feio"
Meus irmãos e irmãs eram considerados bonitos, mas muitas pessoas que visitavam nosso lar comentavam que eu não era tão bonita. Aos sete anos, já tinha complexo de inferioridade. Na escola eu fazia de tudo para evitar as pessoas.
Cresci e me tornei adolescente num Japão derrotado. Minha mãe percebeu que eu não tinha a beleza especial do resto da minha família, então muito docemente quis me auxiliar na vida me ajudando a encontrar uma profissão. Por isso estudei para ser enfermeira na Escola de Enfermagem do Hospital da Universidade de Osaka. Lá comecei a entender que não era o único "patinho feio" do planeta.
Trabalhei durante 30 anos e me tornei o que pode-se chamar de uma enfermeira chefe eficiente e diligente, no Hospital Governamental de Osaka, um local de grande renome e respeito. Mas se aparecia algum estrangeiro na minha ala, eu me mantinha distante e automaticamente designava outra enfermeira para cuidar deles. Não percebia que minhas reações eram causadas pelo rancor profundo e arraigado no meu coração.
Meu acanhamento extremo pela falta de beleza me levou a só conseguir discutir coisas com umas poucas pessoas de cada vez. Quando estava com 45 anos, depois de ter me tornado enfermeira chefe, me pediram para falar para uma grande audiência. Fiquei aterrorizada com a idéia, e tremia durante todo o discurso. Foi uma experiência terrível para mim.
Com pouco mais de 20 anos comecei a ter problemas de coração, que pioraram quando cheguei aos 50. Decidi me aposentar do trabalho no hospital e me mudar para o litoral, um lugar lindo na costa do Pacífico chamado Shionomisaki, sudeste de Osaka. Morava lá com meu antigo colega do governo que também acabara de se aposentar.
Viver num ambiente natural perto do mar, pescando e desfrutando da natureza, era o paraíso para mim nos primeiros dois ou três anos. Mas depois de um tempo, o amor que sentia pela nossa vida livre e natural perto do mar começou a ir embora. Eu me tornei uma pessoa infeliz, deprimida por causa da futilidade da vida e das angústias deste mundo.
Nesta época, fiz uma breve visita à minha irmã mais velha, Lydia, que morava em Tóquio. Minha irmã sugeriu que se eu pedisse a Jesus para entrar no meu coração, encontraria o amor, verdade e felicidade que tanto precisava. Não podia ver como isso me ajudaria, já que eu pessoalmente não tinha nenhum interesse em Deus nem em assuntos religiosos.
Todavia, orei com minha irmã e pedi a Jesus para entrar em meu coração, mais por cortesia e respeito pelo desejo de minha irmã mais velha, para cooperar, não porque achasse que iria me fazer algum bem. Mas depois de ir embora de Tóquio, rejeitei totalmente toda a idéia de Jesus em minha cabeça, e não sentia que isso fosse a solução para nenhum de meus problemas. Voltei à minha vida com meu amigo na cidadezinha costeira.
Meu amigo e eu não tínhamos o menor interesse pela religião, mas morávamos em Shionomisaki, totalmente imersos na natureza, e não podíamos deixar de sentir que definitivamente havia algum poder maior que controlava todos os lindos aspectos da natureza que víamos ao nosso redor.
Grande esperança em meio à tragédia
Certo dia, saíamos no nosso barco para ir pescar quando meu querido amigo subitamente teve uma hemorragia cerebral bem na minha frente. Ele entrou em coma e fiquei arrasada. Minha irmã mais velha saiu de Tóquio e veio para Shionomisaki para me oferecer consolo.
Dois dias mais tarde meu querido companheiro morreu no hospital. Fiquei tão triste e me senti tão desesperançada que queria me juntar a ele, cometendo suicídio, pois ele e eu tínhamos anteriormente conversado sobre nossa morte e feito planos para morrermos juntos.
Minha irmã primeiro abriu sua Bíblia e me mostrou um versículo sobre esperança, mas eu não consegui de maneira alguma entendê-lo. Depois durante a noite ela começou a me falar sobre o amor de Jesus e Seu bálsamo de cura para meu coração. Conversamos durante muitas horas, quando ela de repente percebeu que minha expressão facial tinha totalmente se transformado. Ela sugeriu que eu olhasse no espelho. Vi então que meu rosto tinha mudado tanto que eu parecia uma criança jovem com um grande e largo sorriso.
Minha irmã continuou me falando mais sobre Jesus e Seu doce amor, vida e poder. Depois de uma noite de sono muito feliz, na manhã seguinte acordei e descobri que meus óculos de leitura costumeiros tinham ficado fortes demais para mim. Mas se eu usava os óculos bem mais fracos que meu antigo amigo usava, podia ler sem problemas. Meus olhos tinham ficado bem melhores. Isso era um milagre.
Há 30 anos eu sofria do coração, mas naquela manhã, quando acordei, estava totalmente curada do meu problema cardíaco. Meu corpo era inchado em vários locais, e naquela manhã toda o inchaço desaparecera. Descobri que estava com 10 quilos a menos, e estava tão mudada que os vizinhos mal conseguiam me reconhecer.
Eu sofria de sérios problemas nas costas há bastante tempo, e também de um tinido constante no ouvido esquerdo há anos, mas esses problemas também tinham desaparecido completamente. Eu estava tão ciente das minhas doenças sob o ponto de vista médico, que tudo isso foi uma surpresa completa para mim.
A partida do meu companheiro deste mundo já não doía tanto para mim, pois sabia que ele tinha apenas ido adiante de mim para encontrar Jesus. Minha irmã falara com meu amigo sobre Jesus enquanto ele estava em estado comatoso, logo antes de ele morrer, e por fé acreditávamos que ele tinha recebido nosso Salvador em seu coração. Minha consciência do mundo espiritual ficou mais forte quando pensava que ele estava com Jesus e todos os outros seres espirituais. É claro que às vezes ainda sentia um forte remorso, e uma dor no coração pela partida de meu amigo, mas sempre que clamava desesperadamente a Jesus, minhas lágrimas paravam e sabia que meu amigo estava sendo bem cuidado. Na verdade, conseguia até sentir os braços amorosos de Jesus ao meu redor.
Não era tanto com a compreensão da mente que eu entendia essas coisas. Ao invés disso, era uma consciência impressionantemente profunda da presença de Jesus e da sua ajuda sobrenatural em cada detalhe da minha vida. A proximidade dEle apagava completamente qualquer pensamento de suicídio ou desesperança.
Antes disso, eu nunca tocara numa Bíblia, pois rejeitava completamente qualquer idéia de religião. Contudo, quando tive uma chance de ler a Bíblia sozinha, fiquei impressionada ao ver que as experiências físicas e espirituais que eu tivera estavam todas explicadas na Bíblia.
Começa uma nova vida
Como eu, minha irmã mais velha não era forte fisicamente, mas ela era um grande exemplo de uma testemunha dedicada do amor de Jesus a todos que encontrava. Isso me ensinou a importância de esquecer da minha auto-compaixão e tristeza, pois vi a grande necessidade ao meu redor e senti uma alegria tão grande em testemunhar o amor e cuidado de Jesus em cada situação e oportunidade que tinha. Outro milagre foi ter sido totalmente libertada do temor que tive a vida inteira de falar para grupos de pessoas.
Eu me mudei para Tóquio para ficar mais perto de minha irmã, que era uma discípula de Jesus junto com outros discípulos na Família, e alguns deles eram estrangeiros. Então tomei consciência de outra transformação milagrosa - meu forte rancor contra estrangeiros tinha sido totalmente removido.
Em Tóquio arrumei um apartamento para ficar perto de minha irmã e passei a ter um grande interesse em ler a Bíblia. Depois comecei a ler as palavras do Pai David, o fundador da Família, e achei seus escritos tão simples e maravilhosos, me ajudando a entender os mistérios da vida, que só queria ler tudo que o Pai David tinha escrito sobre Deus, a vida e a vida por vir.
Agora podia sentir o amor de Jesus explodindo dentro de mim, me estimulando com uma grande fome pela Palavra e pela verdade. Queria ser totalmente parte desta Família, mesmo as pessoas tendo falado coisas negativas sobre ela, que eu podia ver tão claramente serem mentiras distorcidas e desvirtuadas. É claro, cada pessoa na Família é como qualquer outro ser humano neste planeta, inclusive eu, por isso, não é que todos sejam perfeitos e erros não aconteçam. Mas o fator primordial e grande diferença é que na Família encontrei um amor tão profundo por Jesus e um pelo outro, com o propósito de ajudar as pessoas deprimidas deste mundo a encontrarem amor e verdade eternas. É disso que se trata a Família. Foi através deles que minha amizade com Jesus, como um Amigo muito íntimo e atual, como Guia, Poder sobrenatural, e Amante da minha alma, se tornou uma realidade forte em minha vida.
Vi como o poder de Deus era tão relevante não só para mim, mas para todos no mundo de hoje e para tudo que acontece ao nosso redor. Este conhecimento me deu uma forte sede espiritual e desejo de me aproximar o máximo possível de Jesus em espírito e em verdade em cada área da minha vida. Queria falar a outros sobre Jesus e Seu amor, que podem ser vividos agora mesmo, e dar a mensagem de aviso do Tempo do Fim.
No início saía sozinha para dar essas verdades a outros, o que vi ser difícil de fazer. Então percebi melhor que precisava clamar o poder de Jesus para fazer qualquer coisa que Ele queria que eu fizesse.
Renunciando a tudo
Quando me aposentei do meu emprego no Hospital Universitário de Osaka, recebi uma boa pensão, e também tinha uma boa soma de dinheiro na poupança, de modo que não tinha mais problemas financeiros nesta vida.
Tinha decidido guardar mais dinheiro e dividir essas economias com meu irmão, que eu achava estar em situação financeira precária. Durante a noite, depois de tomar essa decisão, Jesus falou comigo através de Mateus 6:19 a 21. "Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam. Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração." Isso me ajudou a ver que o dinheiro era um deus no qual eu confiara toda a minha vida, assim como minha maneira egocêntrica de pensar.
Jesus também disse em Mateus 6:24: "Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro Não podeis servir a Deus e a Mamom (materialismo)." Percebi que estava me entregando à minha própria maneira de pensar e padrão ao confiar que este dinheiro era a resposta para todos os meus problemas, ao invés de pedir a Jesus Sua orientação amorosa sobre o que Ele queria que eu fizesse com o dinheiro. Senti que Ele queria que eu desse o dinheiro para a Família de Deus, que estava tão ativa em ajudar as pessoas a abrir seu coração ao amor, misericórdia e perdão de Jesus, que supera todos os temores do homem com positivismo, confiança, fé e felicidade.
Na manhã seguinte minha irmã me convidou para irmos visitar nosso irmão. Meu irmão sempre tivera a mesma atitude que eu com relação a Deus e à religião, e estava bem ciente da minha antiga divergência com minha irmã sobre esses assuntos. Então quando minha irmã e eu fomos ao seu escritório e ele viu a proximidade e amor entre nós duas com relação a Jesus, ele não teve como duvidar do poder sobrenatural do amor de Jesus. Ele orou de boa vontade conosco para receber Jesus pessoalmente em seu coração.
A simplicidade da mensagem de Jesus se tornou tão clara para mim que sabia que não tinha para o que voltar neste mundo. Pelo contrário, queria de todo o coração me tornar parte da amorosa Família de Jesus em corpo como também em espírito, ir morar com eles, e servir o Senhor junto com eles.
Quando comecei a testemunhar com Steven do Reino Unido, agora meu marido, percebi que não era mais um patinho feio deste mundo. Eu tinha me tornado um dos amados cisnes de Jesus que precisava voar junto com os outros cisnes do amor de Jesus para dar as boas novas a toda criatura.
Meu apreço profundo
Gostaria de expressar meu profundo agradecimento a Jesus e a todo o mundo celestial por estabelecerem o Reino espiritual, Sua Família, com o pastoreamento do Pai David, de Maria e de Peter nesses Últimos Dias. Também gostaria de agradecer à minha irmã mais velha, Lydia, que me guiou a Jesus e à Família; a um gentil irmão japonês que me ensinou o básico da Bíblia e das Cartas do Pai David; e a todo os meus irmãos da Família; e ao meu marido Steven, que me demonstrou tanta paciência e misericórdia. Como muitos outros que recentemente receberam Jesus, no início eu estava totalmente cega à dimensão espiritual da vida, e ao amor de Deus e ao Seu Espírito. Mas agora estamos todos na mesma equipe como uma só Família, para sermos testemunhas constantes para Jesus, através da Sua graça, até a Sua volta para trazer o Céu à Terra.